O Outro Lado da Moeda. Os alertas do FMI aos governos

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Jornal do Brasil –GILBERTO MENEZES CÔRTES

Todos já leram que os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) estão projetando queda de 3% do PIB global este ano, em decorrência dos impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Seria a maior retração desde a grande depressão de 1929-30 (que só começou a ser superada em de 1933 em diante). A título de comparação, na última recessão mundial (na crise de 2008-09) o PIB mundial encolheu apenas 0,1% em 2009.

Entre os mais de 190 países analisados, nada menos de 170 entrariam em que na renda per capita (o desempenho do PIB descontado o aumento populacional, embora não se saiba quantos serão as mortes pelo Covid-19. E muitos teriam recessão. Mas o FMI faz um alerta especial: “se a pandemia continuar em 2021, [o PIB mundial] poderá cair no próximo ano em 8% adicionais em comparação com o cenário de referência (2019-20).

Em 2020, os Estados Unidos teriam queda de 5,9% (após alta de 2,3% em 2019) e o PIB do Brasil encolheria 5,3%. Na área do Euro, com queda de 7,5%, os maiores tombos seriam da Itália (9,1%), Espanha (8%), França (7,2%), Alemanha (7%) e Reino Unido (6,5%). O Japão encolheria 5,2%, a Rússia 5,5% e o México 6,6%. Entre os que teriam desempenho positivo estariam a China (+1,2%, porém com forte queda frente aos 6,1% de 2019) e a Índia (+1,9% contra 4,2%). Mas poucos deram destaque aos recados dos economistas do Fundo. O que faço a seguir:

Os recados do FMI

“Esta é uma crise verdadeiramente global, pois nenhum país é poupado. Os países dependentes de turismo, viagens, hospitalidade e entretenimento para o seu crescimento estão passando por grandes perturbações”.

“Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento enfrentam desafios adicionais com reversões sem precedentes nos fluxos de capital, à medida que o apetite pelo risco global diminui e as pressões cambiais, ao mesmo tempo em que lidam com sistemas de saúde mais fracos e com espaço fiscal mais limitado para fornecer apoio. Além disso, várias economias entraram nesta crise em um estado vulnerável, com crescimento lento e altos níveis de dívida”.

“A cooperação multilateral é vital para a saúde da recuperação global. Para apoiar os gastos necessários nos países em desenvolvimento, os credores bilaterais e as instituições financeiras internacionais devem fornecer financiamento concessional, doações e alívio da dívida”.

“A ativação e o estabelecimento de linhas de swap entre os principais bancos centrais ajudaram a diminuir a escassez de liquidez internacional e podem precisar ser expandidos para mais economias”.

“É necessário um esforço colaborativo para garantir que o mundo não desglobalize, para que a recuperação não seja danificada por perdas adicionais de produtividade”.

“No Fundo Monetário Internacional, estamos implantando ativamente nossa capacidade de empréstimo de um trilhão de dólares para apoiar países vulneráveis, inclusive por meio de financiamento de emergência de desembolso rápido e alívio do serviço da dívida para nossos países membros mais pobres, e estamos pedindo aos credores bilaterais oficiais que façam o mesmo”.

“Existem alguns sinais esperançosos de que esta crise de saúde terminará. Os países estão conseguindo conter o vírus usando práticas de distanciamento social, testes e rastreamento de contatos, pelo menos por enquanto, e tratamentos e vacinas podem se desenvolver mais cedo do que o esperado”.

“Enquanto isso, enfrentamos uma tremenda incerteza em relação ao que vem a seguir. De acordo com a escala e a velocidade da crise, as respostas de políticas domésticas e internacionais precisam ser grandes, implantadas rapidamente e recalibradas rapidamente à medida que novos dados se tornam disponíveis”

O FMI diz que “as ações corajosas de médicos e enfermeiros precisam ser acompanhadas por formuladores de políticas de todo o mundo, para que possamos superar conjuntamente essa crise”.

China dá sinais de vida econômica

Ao analisar os primeiros indicadores da economia chinesa em março, o Departamento Econômico do Bradesco considera que “os indicadores sugerem que atividade foi retomada rapidamente ao longo de março, após forte retração em fevereiro”.

O saldo da balança comercial somou US$ 19,9 bilhões em março, resultado das quedas interanuais de 6,6% das exportações e de 0,9% das importações. Analistas esperavam recuos de 13,9% e de 9,8%, respectivamente. Mas o desempenho não foi suficiente para reverter a contração acumulada entre janeiro e fevereiro.

A recuperação no crédito em março acompanhou indicadores de alta frequência que sugerem que economia chinesa já está operando em torno de 80% da capacidade (com indústria mais forte e serviços ainda mais moderados).

Para o Depec, essa melhora reflete a retomada da atividade da China após relaxamento das medidas de controle de circulação de pessoas, mas a queda da demanda mundial a ser observada neste 2º trimestre deve pressionar a economia chinesa nos próximos meses, o que pode tirar entre 1 e 2 p.p. de crescimento do PIB chinês neste ano. [o FMI calcula que o impacto será o dobro, com perda de até 5 p.p.].

Chororô nos trilhos

As companhias aéreas e os operadores de turismo, sem dúvida, são algumas das atividades mais afetadas pela pandemia da Covid-19, mas a lista é interminável no setor de serviços e na economia informal. Com a queda da circulação de pessoas devido ao isolamento forçado nas grandes regiões metropolitanas, agora choram as concessionárias de trens, metrô e VLT.

Os operadores brasileiros de sistemas de metrô, trens urbanos e Veículo Leve sobre Trilhos, representados pela ANPTrilhos, reportam déficit de R$ 933 milhões na receita tarifária em 30 dias (as restrições começaram em 13 de março). Por isso, pedem ao governo federal linha de crédito para capital de giro das empresas do setor; redução dos encargos setoriais; isenção de ICMS sobre energia elétrica; diferimento no pagamento de tributos federais; redução de custos previdenciários; e reabertura do prazo para a opção pelo regime da contribuição substitutiva à contribuição previdenciária sobre folha de salários e rapidez na aprovação de projetos de investimento para fins do financiamento por meio de debêntures incentivadas (Lei nº12.431 e Portaria MC nº 532/17).

O grupo que atua nas maiores regiões metropolitanas do país (SP, RJ, PA, BH, Salvador, Recife, Brasília, Goiânia, Fortaleza e Natal, entre outras) reúne pesos pesados como a Supervia-RJ, controlada desde março de 2019 pela gigante japonesa Mitsui, e a OTP (Odebrecht Transportes, parceria da Odebrecht, com 59,39%, BNDESPar, com 10,61% e o FI-FGTS com 30%). A OTP controla ainda a linha 6 do metrô de SP e o VLT de Goiânia. Todas as demais linhas de São Paulo são operadas pelo governo do Estado, assim como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

Aberto o caminho, virão empresas de ônibus, táxi e até vans das milícias…

Na pindaíba

Na Odebrecht, cuja recuperação judicial tramita na justiça, a situação está tão ruim, que Marcelo Bahia Odebrecht, ex-presidente daquela que nas últimas três décadas foi a maior empreiteira brasileira, pede à companhia para arcar com R$ 118 mil mensais de despesas que não consegue pagar…

Corte de dividendos à vista

Por falar em pindaíba, a indústria de petróleo dos Estados já puxou o freio de mão com a queda de mais de 60% nas cotações do barril de petróleo este ano (e o recente acordo da OPEP+ parece não ter surtido efeito para frear os preços dos contratos para entrega em junho que caem hoje mais de 5%, para abaixo de US$ 30, enquanto o contrato do petróleo americano –WTI fica abaixo de US$ 21). A maioria (das grandes e médias) já decidiu suspender o pagamento de dividendos este ano para evitar pedido de recuperação judicial, como fez a Whiting Petroleum, dia 2 de abril.

E a Petrobras? Será que até 15 de dezembro o quadro vai melhorar para manter a distribuição de R$ 1,7 bilhão em dividendos referentes a 2019?

Distribuir essa bolada em meio à maior crise do setor é relembrar o saudoso ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, alertando [muito antes de se imaginar uma peste como a Civid-19] para a baixa propensão dos brasileiros a poupar. “A família vende apartamento para passar férias na Europa”.

GILBERTO MENEZES CÔRTES

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